domingo, 24 de junho de 2012

Terapia Ocupacional em equipes interdisciplinares junto a indivíduos com obesidade pré e pós-cirurgia bariátrica.

A contribuição da Terapia Ocupacional em equipes interdisciplinares que intervém junto a indivíduos com obesidade pré e pós-cirurgia bariátrica.


A obesidade pode ser definida de maneira simples como acúmulo excessivo de gordura corporal/tecido adiposo, isto acontece em decorrência da hiperplasia e/ou hipertrofia dos adipócitos, esse armazenamento excessivo de gordura acarreta um balanço energético positivo resultante do ganho de peso, que acarreta prejuízo à saúde da pessoa ( LEITE et.al. 2009). Em 1997 foi reconhecida pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como uma  doença integrante do grupo de Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT) (PINHEIRO et.al. 2004).

Leite (2009), cita ainda que a causa da obesidade é multifatorial, ou seja, decorre de vários fatores: genéticos, neuroendócrinos, metabólicos, psicológicos, econômicos, sociais, culturais que podem estar agindo isoladamente ou em conjunto. Entretanto, destaca-se que os principais responsáveis pelo aumento acelerado da obesidade na atualidade estão associados ao ambiente e às mudanças de estilo de vida. No entanto, todos estes fatores convergem para o desequilíbrio energético positivo, ou seja, ingerem mais alimentos do que se gasta, e este processo é influenciado pelos fatores citados acima.


Diante da complexidade da obesidade acreditasse ser necessário ampliar o olhar sobre este evento, não somente ficando restrito a marcadores bioquímicos, fisiológicos, ou seja, a biologia do ser, mas expandir para as influências ambientais/ecológicas, sociais e culturais. Ou seja, extrapolar o pensar da visão reducionista, medicalizada para pensá-lo de forma integral, sócio antropológico e cultural da obesidade. Neste sentido a inclusão dos padrões de comportamento, papéis sociais, sendo estudados e pesquisados como influentes no adoecer do indivíduo com obesidade. Uma leitura ampliada, não somente sua interferência biológica, mas sendo relida e entendida no contexto do sujeito, levando em conta a importância do fazer social da enfermidade.

O procedimento cirúrgico pode ser considerado uma mola propulsora de mudanças, pois, o ser humano simbolicamente entra no centro cirúrgico de uma maneira física, psíquica e social e quando sai da cirurgia sente-se como outro ser psíquico, físico e social. Necessitando reconstruir ou construir uma nova teia de vida. Esta nova fase vem carregada de expectativas e desejos perante a vida e apresenta comportamentos diversos, como frustrações, ansiedades e desconfortos que precisam ser percebidas, sentidas e trabalhadas para que o indivíduo reorganize seu cotidiano ( MARCHESINI, 2010).

Desta forma o pensar na realização da cirurgia bariátrica esta relacionada a uma historia de vida inserido em um cotidiano, e não somente reduzir a escolha deste procedimento ao fato de ser gordo para ser magro, não vincula somente a perda de peso, necessita de uma ampliação de olhar quanto a esta questão. Pois, existem fatores sociais, psíquicos e culturais importantes, imbricados nesta escolha e que necessitam ser pensado, por fazer parte da vida do sujeito, e que interferem no pré e pós-cirúrgico. Desta forma a busca pelo procedimento invasivo, muitas vezes podem vir atrelado pelas questões midiáticas, socioculturais, da construção do corpo belo e aceitável socialmente, que vem entrelaçado  ao preconceito, à restrição de espaço de lazer e trabalho para os indivíduos obesos mórbidos, mas também a qualidade de vida do mesmo ( BERGEROT, 2008).

O cotidiano pré e pós cirurgia bariátrica necessitam ser refletidas, pois, de acordo com a literatura demonstram indicadores de uma ruptura da continuidade da vida cotidiana, ou seja, das relações sociais, do lazer,  trabalho, dentre outros aspectos, e pode-se pensar que a tomada de decisão para realizar a cirurgia bariátrica seja um marco na modificação do cotidiano, nos quais são atividades que constitui a existência do ser e que estão no espaço de satisfação de suas necessidades e que são motivadas por fatores de caráter particular, mas que também são influenciadas por motivações genéricas, ou seja, são motivações advindas da sociedade, pois, o cotidiano assume um terreno de negociações, resistências, inovações, dilemas e reflexões. Desta forma se constitui o cotidiano, carregado de alternativas e tomadas de decisões, no entanto o ser humano será capaz de atuar de tal modo que se converta em um exemplo universal, pois, toda ação de escolha esta relacionado com o contexto que o indivíduo está inserido e com uma situação concreta  (HELLER, 2008).

A Terapia Ocupacional vem contribuir com a clientela obesa, no trabalho nas áreas de desempenho (Atividades de vida diária, lazer), componentes (cognitivos e habilidades psicossociais) e contextos ocupacionais (ambientes físicos, sociais e culturais), intervindo junto ao indivíduo no pré e pós cirurgia bariátrica reorganizando o cotidiano de forma a buscar uma melhor adaptação nesse novo contexto inserido.

Nestes termos, os Terapeutas Ocupacionais objetivam as funções preservadas, desenvolvem mecanismos compensatórios, como também restabelece e/ou melhora o desempenho funcional e previne ou retarda o declínio do mesmo, buscando melhorar e/ou aumentar sua independência e autonomia (LIBERMAN, 1998). 


Contribuir na construção do fazer humano é um dos objetivos primordiais da profissão, por ser considerada uma prática de saúde que trabalha diferentes campos com indivíduos que, de alguma forma, encontram dificuldades em desempenhar uma ou mais atividades ocupacionais. É dentro das áreas físicas, mentais e sociais que o Terapeuta ocupacional junto a uma equipe interdisciplinar de cirurgia bariátrica, pode vir a ter um leque de oportunidades de mostrar através de trabalhos corporais, como exercícios, jogos, teatro, dança, sendo um dos instrumentos de facilitação do processo terapêutico ocupacional. 

Os Terapeutas Ocupacionais inserido em equipe interdisciplinar no atendimento a pessoa com obesidade mórbida vem contribuir na construção integral do ser/sujeito e agregar conhecimento aos saberes e práticas específicas de outras profissões. No qual sua intervenção estará voltada no organizar e/ou reorganizar do cotidiano do sujeito.


Agradecimentos: A Terapeuta Ocupacional e Mestranda Vanina Tereza Barbosa pela expressiva contribuição.


Alexandre Ferreira
Terapeuta Ocupacional
Pós-Graduando em Gerontologia

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