A
contribuição da Terapia Ocupacional em equipes interdisciplinares que intervém
junto a indivíduos com obesidade pré e pós-cirurgia bariátrica.
A obesidade pode ser
definida de maneira simples como acúmulo excessivo de gordura corporal/tecido adiposo,
isto acontece em decorrência da hiperplasia e/ou hipertrofia dos adipócitos, esse armazenamento excessivo de gordura acarreta um balanço
energético positivo resultante do ganho de peso, que acarreta prejuízo à
saúde da pessoa ( LEITE et.al. 2009). Em 1997 foi reconhecida pela Organização
Mundial de Saúde (OMS) como uma doença
integrante do grupo de Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT) (PINHEIRO
et.al. 2004).
Leite (2009), cita ainda que a
causa da obesidade é multifatorial, ou seja, decorre de vários fatores: genéticos, neuroendócrinos, metabólicos,
psicológicos, econômicos, sociais, culturais que podem
estar agindo isoladamente ou em conjunto. Entretanto, destaca-se que os
principais responsáveis pelo aumento acelerado da obesidade na atualidade estão
associados ao ambiente e às mudanças de estilo de vida. No entanto, todos estes
fatores convergem para o desequilíbrio energético positivo, ou seja, ingerem
mais alimentos do que se gasta, e este processo é influenciado pelos fatores citados
acima.
Diante
da complexidade da obesidade acreditasse ser necessário ampliar o olhar sobre
este evento, não somente ficando restrito a marcadores bioquímicos,
fisiológicos, ou seja, a biologia do ser, mas expandir para as influências ambientais/ecológicas,
sociais e culturais. Ou seja, extrapolar o pensar da visão reducionista,
medicalizada para pensá-lo de forma integral, sócio antropológico e cultural da
obesidade. Neste sentido a inclusão dos padrões de comportamento, papéis
sociais, sendo estudados e pesquisados como influentes no adoecer do indivíduo
com obesidade. Uma leitura ampliada, não somente sua interferência biológica,
mas sendo relida e entendida no contexto do sujeito, levando em conta a importância
do fazer social da enfermidade.
O procedimento
cirúrgico pode ser considerado uma mola propulsora de mudanças, pois, o ser
humano simbolicamente entra no centro cirúrgico de uma maneira física, psíquica
e social e quando sai da cirurgia sente-se como outro ser psíquico, físico e
social. Necessitando reconstruir ou construir uma nova teia de vida. Esta nova
fase vem carregada de expectativas e desejos perante a vida e apresenta
comportamentos diversos, como frustrações, ansiedades e desconfortos que
precisam ser percebidas, sentidas e trabalhadas para que o indivíduo reorganize
seu cotidiano ( MARCHESINI, 2010).
Desta forma o pensar
na realização da cirurgia bariátrica esta relacionada a uma historia de vida
inserido em um cotidiano, e não somente reduzir a escolha deste procedimento ao
fato de ser gordo para ser magro, não vincula somente a perda de peso,
necessita de uma ampliação de olhar quanto a esta questão. Pois, existem
fatores sociais, psíquicos e culturais importantes, imbricados nesta escolha e
que necessitam ser pensado, por fazer parte da vida do sujeito, e que
interferem no pré e pós-cirúrgico. Desta forma a busca pelo procedimento
invasivo, muitas vezes podem vir atrelado pelas questões midiáticas,
socioculturais, da construção do corpo belo e aceitável socialmente, que vem
entrelaçado ao preconceito, à restrição
de espaço de lazer e trabalho para os indivíduos obesos mórbidos, mas também a
qualidade de vida do mesmo ( BERGEROT, 2008).
O cotidiano pré e pós
cirurgia bariátrica necessitam ser refletidas, pois, de acordo com a literatura
demonstram indicadores de uma ruptura da continuidade da vida cotidiana, ou
seja, das relações sociais, do lazer,
trabalho, dentre outros aspectos, e pode-se pensar que a tomada de
decisão para realizar a cirurgia bariátrica seja um marco na modificação do
cotidiano, nos quais são atividades que constitui a existência do ser e que
estão no espaço de satisfação de suas necessidades e que são motivadas por
fatores de caráter particular, mas que também são influenciadas por motivações
genéricas, ou seja, são motivações advindas da sociedade, pois, o cotidiano
assume um terreno de negociações, resistências, inovações, dilemas e reflexões.
Desta forma se constitui o cotidiano, carregado de alternativas e tomadas de
decisões, no entanto o ser humano será capaz de atuar de tal modo que se
converta em um exemplo universal, pois, toda ação de escolha esta relacionado
com o contexto que o indivíduo está inserido e com uma situação concreta (HELLER, 2008).
A Terapia Ocupacional
vem contribuir com a clientela obesa, no trabalho nas áreas de desempenho
(Atividades de vida diária, lazer), componentes (cognitivos e habilidades
psicossociais) e contextos ocupacionais (ambientes físicos, sociais e culturais),
intervindo junto ao indivíduo no pré e pós cirurgia bariátrica reorganizando o
cotidiano de forma a buscar uma melhor adaptação nesse novo contexto inserido.
Nestes termos, os
Terapeutas Ocupacionais objetivam as funções preservadas, desenvolvem
mecanismos compensatórios, como também restabelece e/ou melhora o desempenho
funcional e previne ou retarda o declínio do mesmo, buscando melhorar e/ou
aumentar sua independência e autonomia (LIBERMAN, 1998).
Contribuir na construção do fazer
humano é um dos objetivos primordiais da profissão, por ser considerada uma
prática de saúde que trabalha diferentes campos com indivíduos que, de alguma
forma, encontram dificuldades em desempenhar uma ou mais atividades
ocupacionais. É dentro das áreas físicas, mentais e sociais que o Terapeuta
ocupacional junto a uma equipe interdisciplinar de cirurgia bariátrica, pode
vir a ter um leque de oportunidades de mostrar através de trabalhos corporais,
como exercícios, jogos, teatro, dança, sendo um dos instrumentos de facilitação
do processo terapêutico ocupacional.
Os Terapeutas
Ocupacionais inserido em equipe interdisciplinar no atendimento a pessoa com
obesidade mórbida vem contribuir na construção integral do ser/sujeito e
agregar conhecimento aos saberes e práticas específicas de outras profissões.
No qual sua intervenção estará voltada no organizar e/ou reorganizar do
cotidiano do sujeito.
Agradecimentos: A Terapeuta Ocupacional e Mestranda Vanina
Tereza Barbosa pela expressiva contribuição.
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Alexandre Ferreira Terapeuta Ocupacional Pós-Graduando em Gerontologia |